sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Urgente e o Essencial


O ponto de partida para esta minha primeira reflexão pode ser sintetizado na ideia (aqui livremente adaptada) que, há alguns anos atrás, o actual Ministro dos Negócios Estrangeiros e então, como agora, líder do CDS-PP, Paulo Portas, apresentou a uma plateia de adolescentes de uma escola secundária suburbana (na qual me incluía). No acto da governação e em especial em Portugal, o foco está naquilo que é urgente negligenciando frequentemente, em parte pela exigência das circunstâncias, em parte por incapacidade e falta de visão, aquilo que é essencial. É nessa dicotomia entre o que é urgente e o que é essencial, entre o curto prazo e o longo prazo que se determina o sucesso ou insucesso de um projecto colectivo, em que se alcança ou falha a prosperidade de um país. Antes de prosseguir e para evitar confusões desenganem-se aqueles que pensem que fiz a referência acima por qualquer simpatia político-ideológica, o que julgo, de resto, ficará claro.
Portugal está hoje sujeito a um programa de assistência financeira fruto de um desequilíbrio potenciado por uma grave crise no Sistema Financeiro Internacional. Uma crise que ditou uma alteração abrupta daquelas que, até então, tinham sido as condições “normais” de financiamento da Economia e do Estado Português. Se as condições que até data usufruímos eram desadequadas depois de uma década sem crescimento económico, com uma marcada perda de competitividade face aos nossos parceiros e sucessivos défices da balança comercial fruto de uma estrutura económica distorcida e uma moeda demasiado forte para o nosso nível de produtividade? Muito provavelmente. Se houve agentes económicos que tiverem comportamentos irresponsáveis? Talvez. Se há responsabilidade pela forma presente do Sistema Financeiro Internacional, do projecto Europeu e do Euro? Tudo indica que sim.
Estamos hoje mais uma vez rendidos àquilo que é urgente. Metas orçamentais para cumprir. Plano de austeridade para implementar. Corta, Corta, Corta. Ajustamento financeiro  é o objectivo enquanto espiral recessiva e desemprego economicamente insustentável são já factos. As metas finais estão longe e tudo até aqui foi conseguido foi à custa de desemprego, destruição de capacidade produtiva, redução de qualidade dos serviços públicos e forte contracção do consumo e do investimento. Ninguém pode questionar a necessidade de realizar o ajustamento e corrigir o desequilíbrio existente.  Não vou comentar o mérito ou não do programa de ajustamento, quero apenas deixar uma pergunta: Então e depois? Mesmo que se resolva o problema financeiro, mesmo que se atinjam as metas estabelecidas, mesmo que se resolva aquilo que é urgente fica o essencial por fazer.
O essencial é pensar e desenvolver estratégias que permitam recuperar a competitividade perdida na última década e gerar ganhos de produtividade prolongados no tempo, é introduzir os estímulos necessários à correcção da nossa estrutura produtiva. É encontrar o equilíbrio entre as necessidades presentes e o esforço necessário para conseguir gerar crescimento económico e emprego de forma sustentada. Sem uma economia equilibrada e dinâmica é impossível ter Finanças sustentáveis. É preciso discutir estas questões, ter ideias novas quando não houver resposta mas, no essencial, é urgente tornar estas questões uma prioridade.